A reflexão sobre arranjos urbano-regionais, uma categoria espacial híbrida, complexa, em expansão contínua, se mostra necessária no contexto da propagação de configurações urbanas cada vez mais estendidas, caracterizadas como grandes aglomerações, algumas vezes aglutinadas a outras, conformando grandes regiões urbanas. O tema, que já foi objeto de análise de Lefebvre (1991), ganhou recentemente destaque na obra de Neil Brenner, “Implosions/explosions. Towards a study of planetary urbanization”, publicada pela Jovis, Berlin, em 2013. Brenner mostra que desde o início da revolução industrial vem se dando uma metamorfose urbana, com uma completa descaracterização da “cidade” como entendida em suas origens. No movimento apontado por Lefebvre, de implosão e explosão da cidade, percebido em uma dinâmica de expansão cada vez mais universal, “aglomerações se formam, se expandem, se contraem e se transformam de maneira contínua, porém sempre por intermédio de densas redes de relações com outros lugares, territórios e escalas, incluídos os âmbitos tradicionalmente classificados como alheios à condição urbana” (Brenner, 2013, p.61). Tal movimento confirma a advertência de Lefebvre de que já foi cruzado o ponto crítico da urbanização completa e que agora, embrenha-se na “urbanização planetária”, como resgata Brenner.
Mesmo sob uma lógica comum, especificidades locais dessas novas aglomerações formatam unidades diversas, para as quais se atribui um amplo leque de vocábulos, muitas vezes compostos e quase sempre associados à ideia original de cidade. Sobre eles, o próprio Brenner (2013, p.16) conclui que “de fato, muitos termos têm sido postos para rotular a cidade como unidade em questão — metrópole, conurbação, cidade-região, área metropolitana, megalópole, zona megapolitana e assim por diante — e estes refletem adequadamente a mudança de limites, morfologias e escalas dos padrões de assentamento humano». A denominação genérica “arranjos urbano-regionais”, inclui-se entre esse conjunto de termos.
Em razão dessas novas configurações espaciais, sugere Brenner que no plano teórico a compreensão do urbano pressupõe ultrapassar a condição socioespacial limitada, nodal e relativamente fechada em si mesma, em favor de uma concepção processual, territorialmente diferenciada, morfologicamente variável e multiescalar, construída a partir de vários conceitos, métodos e assignações. Uma concepção ligada sobretudo ao enfoque de Lefebvre, em sua busca por superar a brecha urbano/não urbano, para desenvolver uma nova visão da teoria urbana, sem um “fora”.
O conteúdo desta pesquisa, concluída em 2009, oferece elementos empíricos para essa proposição. Alguns de seus aspectos específicos já foram objetos de publicações pela autora em anais de eventos, periódicos e capítulos de livros. Da mesma forma, alguns dos arranjos urbano-regionais tornaram-se temas de investigações por pesquisadores nacionais e de outros países da América do Sul. Em todos os casos, os resultados confirmaram a natureza e as características anteriormente apontadas. No momento da divulgação dos resultados do Censo 2010, foi atualizada a análise fatorial que sustentou o processo identificador das unidades em território nacional, confirmando os arranjos urbano-regionais e ampliando seu universo com algumas aglomerações urbano-regionais e arranjos espaciais singulares.